A história que vou contar se passa no século XVIII. Naquele Tempo, meu pai era o dono da Estagem do Almirante Benbow. Ele estava muito doente E morreu poucos dias depois que um velho marinheiro com uma cicatriz no rosto instalou-se em nossa casa.
O visitante era um homem alto e forte, de mãos calejadas. Uma mecha de cabelo caía-lhe sobre o casaco azul manchado. Usava chapéu de abas tortas e trazia um baú como bagagem. “A casa é bem localizada. Do alto dos penhascos posso ver os navios”, disse para si mesmo e, voltando-se para nós, continuou: – Podem me chamar de capitão.
Era um homem de pouca conversa. A maioria das vezes não respondia às perguntas; limitava-se a lançar um olhar furioso como resposta. Enquanto morou conosco, jamais mudou de roupa. Passava os dias rondando a enseada e, de cima dos rochedos, perscrutava o horizonte com uma luneta; à noite, sentava-se no canto da sala, perto do fogo, bebendo rum. Quando bebia demais, contava histórias sobre enforcamentos e tempestades. Parecia conhecer os piores homens do mundo. As pessoas tinham medo dele e o chamavam de “lobo-do-mar”.
Certa vez, o capitão me prometeu uma moeda de prata para que eu ficasse atento e fosse avisá-lo, caso aparecesse por lá um marinheiro de uma perna só. Nas noites de vendaval, quando o vento sacudia a casa e o mar batia contra os rochedos, aterrorizado, eu julgava vê-lo por todos os cantos. Mas não foi esse o homem que apareceu na estalagem num dia frio de inverno. Era um homem baixo e trazia um punhal no cinto. Ao vê-lo, o capitão ficou lívido.
– Cão Negro! – murmurou.
– Isso mesmo, Bill Bones, sou eu em carne e osso!
– Isso mesmo, Bill Bones, sou eu em carne e osso!
A seguir, houve uma explosão de pragas, cadeiras jogadas pelo ar; depois, o som metálico das lâminas e um grito de dor. Vi o Cão Negro fugir com o ombro escorrendo sangue.
– Jim, o baú! Eles vão querer o baú… Capitão Flint… o mapa… Estas foram as últimas palavras do capitão antes de, cambaleando, cair morto no chão.
Minha mãe logo apareceu e contei-lhe tudo o que sabia. Era uma situação perigosa, mas decidimos abrir o baú e pegar o que o capitão nos devia. No baú havia várias bugigangas, um embrulho lacrado e um saco cheio de dinheiro! Mamãe separava a nossa parte, quando ouvimos um barulho. Da janela, vi um grupo de homens que se aproximava em disparada.
Era preciso fugir. Minha mãe pegou o que havia contado e eu fiquei com o embrulho na mão. Depressa, nos escondemos no quintal. Os homens entraram na casa.
– Bill está morto. O baú foi aberto, mas o dinheiro está aqui… Onde estão os papéis?
Ouvimos ruído de móveis, pontapés nas portas e, então, um tropel de cavalos. Houve uma confusão entre os bandidos, que fugiram em todas as direções. Era o inspetor com seus homens que, alarmados com o atraque de um barco suspeito, decidiram vir para o nosso lado. Juntos, entramos na estalagem; estava toda quebrada e o dinheiro havia sido roubado!
Decidimos confiar aqueles papéis ao dr. Livesey, médico e juiz da região, e ao castelão do lugar, o fidalgo dom Trelawney, ambos excelentes pessoas. Os dois escutaram o meu relato cheios de surpresa e interesse ficaram ainda mais atentos ao ouvirem o nome do capitão Flint, que era conhecido por ser o pirata mais sanguinário de todos os mares.
Dentro do embrulho havia um livro e um papel selado. Era o livro de contas de Flint, onde estavam anotadas as quantias roubadas durante vinte anos! O papel selado era o mapa de uma ilha, com todos os pormenores para levar um barco a ancorar em lugar seguro. Três cruzes e uma anotação sobressaíam em tinta vermelha: “Aqui, a maior parte do tesouro.”
– Livesey – disse dom Trelawney -, amanhã parto para Bristol. Dentro de algumas semanas teremos o melhor barco e a melhor tripulação da Inglaterra! O senhor será o médico de bordo. E você, Jim Hawkins, será o grumete! Vamos à caça desse tesouro!
Logo a Hispaniola estava pronta. Para comandá-la, o fidalgo contratou uma pessoa admirável, o capitão Smollet. Por coincidência, encontrou um antigo marinheiro conhecido como o grande Long John Silver; gostou de seu jeito e contratou-o como cozinheiro. Ele tinha a perna amputada e usava uma muleta. Eu estava tão encantado que afastei o pensamento de que ele pudesse ser o tal marinheiro de “uma perna só” que tanto assombrara os meus sonhos na velha Almirante Benbow. Esse sujeito ajudou a recrutar os marinheiros e um contramestre. Eu ia partir para uma ilha desconhecida, com marinheiros que cantavam, usavam brincos e tranças. Ia em busca de tesouros enterrados… e meus olhos não enxergavam o perigo.
Todos estavam satisfeitos a bordo. Tivemos maus tempos, que provaram a alta qualidade do navio e do capitão, que se mostrava arredio. Quando falava, era breve e seco. O cozinheiro, ao contrário, era prestativo e bem-humorado.
Porém, quando estávamos a um dia do nosso destino, fui atraído por um murmúrio. Era John Silver que conversava com o contramestre:
– …o próprio Flint me temia… No barco do Long John nossos homens estão seguros.
– Mas por quanto tempo ainda vamos fingir que isto aqui é um pacífico barco mercante?
– O capitão Smollet é um ótimo marinheiro; o doutor e o fidalgo escondem o mapa. Vamos aturá-los enquanto precisarmos deles. Por enquanto, continuem a levar uma vida regrada, a falar de mansinho, e fiquem atentos aos que não estão do nosso lado.
– Mas por quanto tempo ainda vamos fingir que isto aqui é um pacífico barco mercante?
– O capitão Smollet é um ótimo marinheiro; o doutor e o fidalgo escondem o mapa. Vamos aturá-los enquanto precisarmos deles. Por enquanto, continuem a levar uma vida regrada, a falar de mansinho, e fiquem atentos aos que não estão do nosso lado.
Compreendi então que ocorreria um motim e que ainda havia homens do nosso lado. A vida das pessoas honestas que iam a bordo dependia apenas de mim.
De súbito, o vigia, que foi destacado para avisar assim que visse a ilha, gritou:
– Terra à vista!
Os homens saíram agitados de dentro das cabines. Long John dirigiu-se ao capitão:
– É a ilha do Esqueleto. Já estive aqui antes. Dizem que há tempos foi um reduto de piratas. A montanha mais alta é o Telescópio, e o melhor ancoradouro fica a nossa direita – disse, apontando a direção justamente do local onde havia uma âncora no mapa. Eu estava estupefato com a audácia com que John revelava seu conhecimento sobre a ilha.
Logo que me foi possível, pedi uma audiência urgente com o doutor, o fidalgo e o capitão, e narrei-lhes os detalhes da conversa de John.
– Estaremos seguros até encontrarmos o tesouro – disse o capitão. – Precisamos seguir em frente para que Silver não desconfie, e então os atacaremos de surpresa. Nós quatro, mais os três criados de dom Trelawney, somos sete, contando Jim Hawkins como um homem, contra dezenove. Entre eles existem alguns tripulantes fiéis, embora não saibamos quantos.
https://www.portalsaofrancisco.com.br/literatura-infantil/a-ilha-do-tesouro
Professora Nanci
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